Estar sozinha no mundo é uma condição humana natural mas, infelizmente , não temos essa consciência pois a sociedade nos dá a condição da vida social e temos uma percepção de estarmos sempre juntos de alguém.
Desde criança vivemos em grupo. Primeiro a família, a escola, depois o trabalho, e assim vamos vivendo sempre ao lado de pessoas. Um exercício bom para se ter essa consciência é se lembrar, um por um, de todas as pessoas que estiveram ao seu lado na sua caminhada e os que foram importantes para você. Vem os pais, a primeira professora, os amigos de infância, os colegas de trabalho, os colegas da escola, o seu médico, o seu dentista, o seu melhor amigo, os seus amores enfim uma infinidade de pessoas que caminharam ao seu lado por um momento, por uns dias ou por alguns anos.
A experiência de viver em grupo é riquíssima, mas o tempo vai passando, os grupos vão se dissolvendo e chegamos naquela hora de um novo aprendizado que é o de viver só ou melhor viver consigo mesma.
Já ouvi várias mulheres falando sobre suas vidas, sem mais um companheiro. Umas se sentem felizes porque gostam de viver só. Curtem a casa, se dedicam ao plantio de flores ou temperos, tem suas leituras e ainda, curtem ouvir uma boa música. Passam a vida assim. Outras, com temperamentos diferentes, programam viagens mensais, curtem sair para assistir um bom filme ou uma peça no teatro. Algumas entram em sociedades que precisam de trabalho voluntário e outras, ainda, entram em escolas para fazer alguma coisa que não foi possível fazer no passado.
Assistir a bons filmes, para mim, é uma maneira saudável de sair de casa e compartilhar uma experiência emocional ou intelectual . É muito comum entrar numa sala de cinema e encontrar mulheres sozinhas. Esse comportamento era muito difícil até a década de 70, no século XX – depois foi mudando aos poucos. O mesmo acontece nos teatros, nas academias de dança, de ginástica etc.
Por que isso está acontecendo? Porque a mulher descobriu que ela é única e que cabe a ela buscar o seu caminho. Por ter o seu próprio dinheiro, por não depender de ninguém ela pode decidir o que fazer de sua vida. A condição econômica é importante para tomar decisões sobre nossa vida. Devemos pensar nisso bem cedo…
Mas, ao longo da vida, vamos desenvolvendo um outro aprendizado, muito importante. Ao estarmos bem conosco mesmas, estamos prontas para o estar só em um local físico, ou o participar de algo coletivo, como o cinema, ou mesmo compartilhar experiências com pessoas desconhecidas – como um curso, aprender ikebana ou jantar sozinha em um restaurante cheio – e sempre com alegria.
Vejo uma diferença importante entre o século XX e o XXI, neste assunto. Antes, as mulheres suportavam muita coisa para não ficarem sozinhas. Ser só era uma coisa menor, ou que em alguma medida parecia diminuir a mulher. Hoje, no século XXI, temos clareza de que estar só é uma condição natural da vida, tanto para o homem quanto para a mulher, e a contingência de ter uma pessoa ao nosso lado pode até aumentar este estar só se não for uma convivência baseada em respeito mútuo e compreensão.
Aprendemos, como seres humanos – e não apenas como mulheres – que não estamos sós quando estamos em profunda comunhão conosco mesmas e, por conseqüência, com Deus.